Há
uns 5 anos atrás, um conhecido atrás de um amigo, falou de um
garoto que gostaria dele. Fui conhecer e comecei um flerte que nunca
dava certo. Até que desisti, que vi que não era ‘meu tipo’ -
com o tempo, vamos vendo. Porém era tarde.
Antes
de mais nada, sempre gostei de garotos, desde que me lembro por
gente.
Derrepente,
este garoto que indicaram e que já não queria mais, começou a me
ligar. E eu dispensando. Um dia chegou aqui em casa, querendo algo
sexual, mas querendo filmar. Não aceitei de forma alguma.
Passou
alguns dias, ele me liga com uma conversa mais apimentada e mal sabia
que ele estava gravando a conversa.
Outro
detalhe, eu sempre estive no armário, apesar de sempre ter alguém.
E
ele começou a chantagear com esta gravação, dizendo que contaria
para todo mundo, que faria escândalo, que se eu não fizesse o que
ele pedisse iria expor e até me ameaçar com uma arma. Entrei em
pânico. Um medo incontrolável, que mais tarde se desenvolveu como
ansiedade generalizada, quase pânico. Comecei a tomar remédios
antidepressivos e clonazepam. E pagava as chantagens.
Ligava
quase que diariamente pedindo algo. Era intimidador. Às vezes não
conseguia trabalhar para ir arrumar o que pedia. Às vezes dava
tempo, as vezes não.
Quando
contava que estava prestes a desistir e largar tudo e contar a todos,
me ameaçava novamente com arma. Era um inferno.
Tentava
contar aos amigos próximos, que até sabiam minha orientação
sexual, mas eles não queriam saber de “coisas íntimas” e me
cortavam antes de contar o que me aconteciam. O mais próximo chegava
a brigar comigo.
Não
tinha coragem de contar ao psiquiatra, por não conseguir enxergar um
futuro ao qual estaria livre.
Durante
este período entrei em um modo autodestrutivo. Meu humor mudou.
Minha criatividade acabou.
O
àpíce chegou quando a crise brasileira me atingiu em cheio. Com
dívidas contraídas devido às chantagens, à mudança de renda.
Coloquei então meu carro a venda, mas para pagar as dívidas, não o
chantagista.
Ele
começou a me ligar todos os dias, várias vezes ao dia, mensagens
via whatsapp, sem parar e constantes. Tinha dias que “parecia
bonzinho” e “querer me ajudar”, pediu meu carro para tentar
vender. Aceitei, mas o carro já estava com bloqueio no banco por
causa das dívidas e não tinha como vender, ele não acreditava,
deixei ele ver isso.
Até
que chegou um ponto, que mesmo com aquele medo terrível, me levantei
de onde trabalhava e fui para a loja da minha mãe, junto com meu
irmão e contei tudo o que estava acontecendo. Tremendo de medo,
assustado.
Meu
irmão achava que era drogas. Minha mãe disse que sempre sabia,
desde cedo. (Poxa, seu eu soubesse!).
Baixei
um aplicativo para gravar conversas, gravei as ameaças, tinha as
ameaças dos chat do whatsapp. Chamei o meu amigo mais chato, que já
sabia de mim e que não gostava que eu contasse nada para ele (um
daqueles lá do começo dessa história) e contei tudo na bucha pra
ele, uma vez que é advogado.
E,
enfim, com a ajuda dele fomos a delegacia, fizemos a deúncia (sem a
ajuda e impulso dele não teria conseguido). A orientação da
polícia era não atender mais. Nem responder.
Certo
dia, ele aparece aqui em casa (ainda não tinha sido intimado pela
polícia) avisando que se eu denunciasse ele eu iria sofrer as
consequências, mostrou uma arma, novamente. Por sorte, apertei o
botão de áudio do Whatsapp para este meu amigo que me ajudou e
gravei quase tudo, quando viu que estava gravando ele bateu em minha
mão e derrubou o celular, o áudio foi direto ao meu amigo, que veio
para cá com a polícia, mas infelizmente o sujeito já havia ido
embora.
Meu
carro? Sumiu. A polícia? Ajudou, mas não fizeram nada com o
sujeito. Nem sobre meu carro.
Hoje,
faz 1 ano ou mais que estou livre do chantagista, mas até hoje sinto
traumas dos 4 anos de chantagem.
Detalhe.
Estava me preparando para contar para minha família, mas queria
testar meus amigos, contando primeiro a eles (não do chantagista,
mas de minha sexualidade) de início reagiram aparentemente bem. Hoje
em dia, tenho vontade nem de sair de casa, para não ver coisas que
talvez sejam da minha cabeça ou talvez sejam reais. E de ser
lembrado de minha sexualidade, quando nem mesmo eu estou lembrando
dela e outras coisas chatas e desagradáveis.
Este
meu amigo advogado, amigo de infância, o qual achava que não era
mais meu amigo, me ajudou mais que minha família.
Cheguei
a ir a um psicólogo, depois disto tudo, mas ele tratou apenas da
sexualidade, da liberdade de ser livre, da liberdade de ter contado,
etc. Hoje, vendo algumas reações, preferia não ter contato nada
aos amigos pra falar a verdade. Não há liberdade alguma. A não ser
com pessoas com desejos sexuais iguais. Ainda bem que ele era
contratado da prefeitura e acabaram as sessões, que achava que ele
ficava era é excitado.
Durante
este período da chantagem, o medo era tamanho que os pensamentos
mais recorrentes eram: suicídio, mudar de país mas ai teriam minha
família a merce deste bandido, de mandar bater, mandar matar, como
matar, como morrer, que se contasse só coisas ruins aconteceriam,
que não teria saída, que nunca acabaria mesmo contando. Vários
pensamentos, a maioria negativa.
Como
estou hoje, depois disto tudo? O fato do sujeito ter sumido, é um
alívio. Esta “liberdade” que o psicólogo disse, é uma
liberdade falsa, que só existe entre pessoas com os mesmos desejos.
Mas por questões óbvias: outros grupos, outros interesses. Igual um
sujeito que só pensa em sexo (independente da preferencia sexual)
ficar em todo tipo de ambiente mostrando suas taras e desejos, em
todo tipo de grupo, é desagradável, e isso sempre soube. Só não
precisam me lembrar quando nem eu estou lembrando, ou forçar a falar
quando não quero falar, porque não é de interesse deles.
Minha
mãe, uma senhora de 70 anos, aceita desde que não me assuma, que
continue escondido como sempre fiz. Vive falando mal de gays e
lésbicas, só olho e fico calado. Diz que não sou mais feliz como
era antigamente (antigamente mesmo, antes do chantagista). Mas como
posso ser feliz após este trauma, estar sem dinheiro, sem meu carro,
com pessoas agindo diferente agora que me assumi mesmo não mudando
nada, e em uma sociedade empresarial (será próximo tema) que não
me satisfaz nem um pouco e que me fazem pensar: será que gosto ainda
de programar (sim, sou um programador)?
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